Há mais de 60 anos, a água que brotava de uma mina no bairro do Meudon, em Teresópolis, era sinônimo de vida e comunidade. Era uma solução sustentável, distribuição e armazenamento comunitárias construídas e mantidas pelo povo, o que garantia um direito fundamental a dezenas de lares. Nas últimas semanas, esse cenário de autonomia foi transformado em um campo de guerra. No lugar da coleta coletiva, chegaram homens com fuzis e a ganância da Águas da Imperatriz, a representante local do grupo Águas do Brasil, que assumiu os serviços após a privatização da CEDAE.
A ordem da empresa foi clara: o que era um direito agora tem preço. E quem não puder pagar, que fique com sede. E as promessas de taxas reduzidas e serviço de qualidade se revelaram o que sempre são: uma farsa neoliberal para entregar o patrimônio do povo ao capital.
Fuzis para "proteger" hidrômetros: A violência em ação
A brutalidade da empresa e a cumplicidade do Estado são explícitas. Todos os moradores que entrevistamos foram unânimes: não houve diálogo ou aviso prévio. A Águas da Imperatriz chegou com a truculência de quem se sente dono de tudo, acusando os trabalhadores de crimes ambientais por usarem a água que sempre foi deles.
Luan, dono de uma pequena oficina, descreve o caos: "Eles retiraram o sistema de abastecimento da comunidade e deixaram as pessoas sem água. Só um carro-pipa foi disponibilizado para toda a comunidade". Um único carro-pipa para mais de 100 famílias. É o retrato do descaso e da irresponsabilidade.
Além de bloquear ruas e dificultar a locomoção, a empresa trata os moradores com um desprezo criminoso. Bruno, que tem uma pessoa acamada em casa, foi questionar o que fazer em caso de emergência. A resposta que ouviu de um representante da empresa resume a lógica do lucro acima da vida: "a gente joga no carro e leva pro hospital".
A violência também é econômica. Jéssica e Juanito foram forçados a construir, às pressas, uma nova estrutura para uma caixa d'água. "Antes a gente compartilhava a caixa com mais três casas, agora com o hidrômetro cada um precisa ter a sua, e pra ontem, se não fica sem água", desabafou Jéssica. A privatização impõe custos, individualiza o que era coletivo e transforma um direito em mais um boleto para a classe trabalhadora pagar.
Cartas vazias e mãos sujas
Enquanto o povo sofre, a classe política encena um teatro patético. A privatização ocorreu na última gestão, quando o atual prefeito era presidente da Câmara. Agora, tentando fugir da responsabilidade, o mesmo prefeito envia uma carta de "insatisfação" à empresa.
No documento, ele e o atual presidente da Câmara afirmam, em uma linguagem burocrática, que "não será admitida, por parte do Município, qualquer medida unilateral ou arbitrária". Essas palavras vazias chegam tarde demais e não revertem o dano causado aos moradores. Essa insatisfação parece mais uma confissão da cumplicidade. Cartas não vão cancelar um contrato que beneficia o capital; são apenas uma tentativa de enganar o povo.
Retomar o que é do Povo, construir o futuro
A situação de Teresópolis não é uma exceção. É a regra do manual neoliberal, que tem sido aplicada com afinco em todo o país: destruir o que é público, entregar de bandeja a grupos privados e usar a força do Estado burguês para reprimir qualquer resistência.
A construção de uma nova sociedade, livre da exploração, começa nas lutas do presente. A resistência no Meudon precisa do nosso apoio. É preciso divulgar esses relatos para que mais gente saiba do crime que está em curso. É preciso pressionar a prefeitura e a câmara de vereadores para que saiam das cartas vazias e tomem ações concretas de fiscalização e punição. É fundamental apoiar e fortalecer as associações de moradores e coletivos que estão na linha de frente dessa batalha. A solidariedade de classe é nossa arma mais poderosa.
As privatizações só reforçam o que já sabemos: o Estado, sob a lógica capitalista, serve para beneficiar os ricos. Somente com a luta organizada e a construção de uma sociedade socialista, onde os interesses da classe trabalhadora sejam a única prioridade, poderemos garantir que bens essenciais como a água sejam um direito universal e não uma fonte de lucro para parasitas. A água é do povo!
texto publicado em 28/07/2025